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domingo, 12 de outubro de 2014

Crianças para não esquecer









"Não quero adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa." Oscar Wilde

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

As razões de Eduardo


A rotina sempre  satisfazia, o modo como acordava. Pegava o copo, adicionava leite, colocava o achocolatado em sequência, fazia parte de um dos seus prazeres. Logo após sentava em frente a tv, e com o chocolate (gelado) entre as pernas assistia o noticiário de São Paulo, ficava preocupado, indignado com tamanho trânsito, mesmo sem importar. Ele não morava na cidade grande, vivia numa cidade pequena, fazendo proveito das pequenas festas comemorativas. Mas aquilo sempre o agradava, a rotina sempre satisfazia, tanto, que o deixava incomodado. O cotidiano não saciava o improvável, fechava todas as portas, apertava os dias com uma corda, nunca deixava o acaso acontecer. 

Foi num tempo desses que ele percebeu, sentado no escritório com a gravata sufocando, talvez pelo calor do lado de fora. 

- Estou cansado. -disse para si mesmo quase que num sussurro. Ora Edu, cansado de que? Suas contas estão em dia, seu apartamento com uma aparência simpática, roupas de belo agrado, cheias de marcas que os amigos indicaram, nos finais de semana sai com colegas, ri da desgraça alheia, aproveita os dias de sol no litoral. Cansado-do-que? Ele nem tinha resposta, igual a maioria. Estava cansado de estar cansado, assim como descansar cansa. E quando notou que recusava dar satisfações a alguém, além de si mesmo, saiu. 

Saiu da cadeira e foi até a janela do escritório, é claro. Não poderia largar tudo, ou poderia? Acontece que ele estava de saco cheio, se quer aguentava aquele trabalho, fazer sinopse para a editora de livros?! Eduardo queria mais é escrever o próprio livro! Sobre o que? Podia deixar isso para depois. 

Então, se debruçou sobre a madeira, tomou um vento legal na cara e entendeu aquilo como um sinal! ACORDA! Pegou a bolsa em sua mesa, ajeitou o óculos, tentou parar de pensar em todas as consequências, pigarreou e finalmente saiu. Para onde eu não sei, talvez voltasse amanhã mesmo com alguma desculpa esfarrapada. As vezes broxamos em certas decisões, acho que é medo da perda. 

O fato é que saiu, meio sem jeito, com a cabeça levantada quase a desabar. E as razões de Eduardo? Quais seriam? Edu não tinha, alias, priorizar a vida é uma razão não é?

- Mesmo que tempo seja a vida – pensou ele - precisamos dele para descobrir realmente como viver. – Então bateu a porta do escritório.